Cadu de Castro
Caranguejeiros do Delta do Parnaíba
Eu estava na Ilha Grande, região do Delta do Parnaíba, quando meu amigo Pedro Holandês me disse que tinha uma boa notícia. Havia conseguido com Tonho, um caranguejeiro da Ilha, para que eu e Karen o acompanhássemos em um dia de trabalho na cata de caranguejo. Fiquei empolgado, ansioso! Pensei na riqueza que me traria a experiência de conviver e com esses trabalhadores e conhecer o seu ofício. Na manhã seguinte, acordamos às 4 horas da manhã e fomos até o Porto dos Tatus, os caranguejeiros foram chegando e às 5 da manhã deixávamos o porto na embarcação do Tonho em direção aos manguezais mais distantes, onde ainda há caranguejo.
No trajeto iniciei uma conversa com um, depois com outro e logo estávamos proseando como velhos amigos. Aprendi com Adriano como desfiar a embira, Manuel me falou sobra a dureza da lida, Tonho contou que o caranguejo está escasseando. Me indignei com os preços que pagam pelos caranguejos, com a exploração de uma mão de obra semi-escrava. Falei com eles sobre cooperativa, mas disseram que nada funciona, quem compra boicota tudo.
Chegamos ao manguezal, Adiano foi o primeiro a descer, depois Mnuel, depois os outros. Os caranguejeiros escolhiam o lugar onde catariam e Tonho os deixava pra pegá-los na volta. Ficamos eu, Karen, Cara Errada e Tonho. Aí foi preparar o mínimo de equipamento fotográfico para levar, calçar bota e baixar no manguezal.
Cara Errada já preparou o fumaceiro, pois segundo disse odiava as "pragas" (muriçoca, mutuca e, principalmente, um mosquito que chamam de pererecaque, segundo eles, picava doído demais). Sairam atrás das tocas, mostrando as pegadas e a distinção entre o macho e a fêmea, que é proibido catar.
Então me restou atolar no mangue para acompanhá-los e fotgrafá-los. Eu cansado, enlameado, picado pelas "pragas" apesar de meu repelente, senti a dificuldade, a dureza, o desgaste do corpo do ofício de catar caranguejo. Entristeci, me indignei, me compadeci deles, chorei. Embrenhar-se no manguezal catando e carregando 40, 50 caranguejos é vida pra poucos. E esses poucos, aos 40 anos de idade estão praticamente inválidos para a lida.
Ao voltarem para o porto vendem os caranguejos aos atravessadores, que pagam quase nada. Explorados, os caranguejeiros veem-se sem esperanças, humilhados. Sim humilhados, foi o que ouvi. Voltam para a casa com o ganho tacanho de um dia todo de trabalho árduo, exaustivo, insalúbre.
O mais interessante é que aqueles que vêm da fartura e ignoram a realidade dessas pessoas, os chamam de "vagabundos" por necessitarem de um projeto social do governo, o Bolsa Família. Triste!
Eram 5 horas da manhã, o povoado do Porto dos Tatus dormia, exceto os caranguejeiros que se já se preparavam para mais um dia de lida. Fiz esta fotografia enquanto esperava o barco dos caranguejeiros atracar no porto para embarcarmos numa experiência inesquecível, conhecer o cotidiano dos caranguejeiros.
A embira é uma corda feita da fibra da folha da carnaúba, que é preparada pelos caranguejeiros para amarrar o caranguejo em "cordas" (cada "corda" tem quatro unidades). Depois de embarcarem no Porto dos Tatus, a caminho do mangue, vão desfiando e preparando a embira.
Depois de quase uma hora de navegação chegamos ao manguezal, ambiente onde se desenvolve o trabalho do caranguejeiro.
No barco que estávamos, havia dez caranguejeiros. Tonho, o dono do barco foi deixando-os pelo caminho, para que cada um explorasse um canto do manguezal e na volta os recolheu.
O manguezal é o ambiente de trabalho dos caranguejeiros. "As pragas", como eles costumam dizer, são o que mais incomoda. Entretanto, o terreno lodoso, as raízes do mangue, cobras, são outros perigos e incômodos que estes homens enfrentam no manguezal.